Quem descobriu o Brasil?
Foi Pedro Álvares Cabral no dia 22 de abril de 1500!
A expedição
organizada pelos portugueses a pedido do Rei Dom Manuel tinha como
objetivo repetir o feito de Vasco da Gama e chegar às Índias. Estavam
em busca de metais preciosos, como o ouro e a prata, e especiarias!
Não se sabe ao certo por que Cabral desviou tanto a oeste da sua
rota original, sabemos apenas que não fosse isto os portugueses não
teriam descoberto as terras no depois chamado novo mundo.
No dia 22 ouvi-se um grito “terra vista”! Avistaram um monte, que
recebeu o nome de Monte Pascal. O nome dado a terra descoberta foi
Terra de Santa Cruz, atualmente cidade de Porte Seguro na Bahia. O nome
definitivo, Brasil, só veio alguns anos depois, devido a quantidade de
pau-brasil encontrado no litoral!
A carta escrita por Pero Vaz Caminha e enviada para o rei em
Portugal descreve com detalhes a viagem, a terra descoberta e os
nativos. Este é um importante documento histórico para o Brasil e para
o mundo!
O primeiro contato com a população local foi feito no dia 23 de
abril. Os índios Tupiniquins, de origem tupi-guarani, habitavam o
litoral do sul da Bahia. Apesar do choque entre as diferentes culturas,
trocaram objetos e cortesias pacificamente.
Frei Dom Henrique celebrou a primeira missa no dia 26 de abril. E
acreditem, era domingo de páscoa! Compareceram não só os comandantes e
suas tripulações, mas também muitos nativos curiosos atraídos pelo
ritual.
Dias depois Cabral seguiu viagem até alcançar Calicute, mas deixaram
por lá 2 degradados – condenados por crimes em Portugal – que meses
depois foram resgatados e deram contribuições importantes aos
portugueses.
CABRAL, O NAVEGADOR MUITO AMADO
Projeto memória
Depois de cumprir a missão que o rei lhe confiara, Pedro Álvares
Cabral não quis voltar a embarcar. Refletindo um pouco, logo se conclui
que procedeu bem pois um êxito estrondoso dificilmente se repete. Ora,
Cabral foi o primeiro navegador da História da Humanidade a ligar
quatro continentes numa única viagem. Enfrentou os ânimos mais suaves e
mais agressivos dos dois oceanos conhecidos na época. Fortaleceu laços
de amizade e fez pactos de comércio com reis e rainhas do Oriente. E
descobriu o Brasil. Tudo somado, chega e sobra para encher uma vida.
Este bem sucedido viajante do rei casou com Dona Isabel de Castro,
senhora ilustre que descendia da família real portuguesa e da família
real castelhana. O casal teve seis filhos, dois rapazes e quatro
meninas, batizados com os nomes de Fernando, Antônio, Constança,
Guiomar, Isabel e Leonor.
Instalado em Santarém, Pedro Álvares
Cabral foi sempre recebendo notícias da linda terra que descobrira,
afinal bem maior e mais rica do que se pensava. E recompensas do rei D.
Manuel I, à medida que ele compreendia a verdadeira importância daquela
descoberta.
O
navegador repousa ao lado da mulher numa sepultura na Igreja de Nossa
Senhora da Graça, em Santarém. A sua face encontra-se esculpida em
pedra na parede do mais belo monumento português, o Mosteiro dos
Jerônimos. Aí se encontram também outros navegadores, mas olham em
direções diferentes. Vasco da Gama e os companheiros Paulo da Gama e
Nicolau Coelho estão virados para Oriente em memória da chegada à
Índia. Pedro Álvares Cabral, de sorriso discreto e elegante barbicha,
olha para o lado oposto, para Ocidente, para o Brasil.
Quinhentos
anos após a sua viagem, continua a ser recordado com amor entre dez
milhões de portugueses e cento e sessenta milhões de brasileiros.
O REGRESSO À CASA
No regresso, os homens da armada de Cabral tiveram uma agradável
surpresa: encontraram a caravela comandada por Diogo Dias, que todos
julgavam afundada no Cabo da Boa Esperança. Afinal estava intacta,
havia treze sobreviventes de mil aventuras no Índico e tinham
descoberto outra terra que ainda não figurava nos mapas, uma ilha
batizada com o nome de São Lourenço e que mais tarde se chamou
Madagascar.
Felizes por se reencontrarem, zarparam para Lisboa
mas o vento, teimoso como sempre, dispersou os navios, impedindo que
chegassem juntos conforme desejavam.
Pedro Álvares Cabral entrou
na barra do rio Tejo a 23 de julho de 1501. Tinha passado um ano e
quatro meses em viagem, resistira a pavorosas tempestades, a investidas
traiçoeiras, a doenças tropicais, a batalhas navais. Trazia os porões
carregados de especiarias, sedas e outras preciosidades do Oriente.
Trazia também informações animadoras sobre o futuro dos portugueses no
Índico e os nomes de novos e poderosos aliados. Podia assim
apresentar-se diante do rei D. Manuel I com a serenidade de quem
cumpriu a sua missão. No entanto, ao passar a vista pelas margens
verdejantes de onde lhe acenavam homens e mulheres ansiosos por
notícias dos familiares embarcados, uma sombra de tristeza deve ter
pesado sobre seu coração. Tantos companheiros desaparecidos… E tal como
muitos outros antes dele e muitos outros depois dele, certamente se
interrogou: “Valeu a pena?”
Provavelmente não encontrou logo as palavras certas para uma boa
resposta. Em todo caso, certamente pensou que descobrir, conhecer,
comunicar, tem o seu preço. E depois, por entre as muitas imagens que
lhe cruzaram o espírito, fixou-se numa só: a imagem do mundo novo
descoberto a ocidente, suave paragem a caminho da Índia, lugar
semelhante às mais belas descrições do paraíso terrestre.
Se não fosse por mais nada, pela terra de Vera Cruz já teria valido a pena!
JORNAL DA HISTÓRIA
Canal Kids
Quando o Brasil foi descoberto, no dia 22 de abril de 1500, ainda
não existia jornal impresso e publicado diariamente. Mas… e se já
existisse, do jeitinho que a gente conhece hoje? Já pensou como seriam
as reportagens sobre o descobrimento do Brasil? No dia em que Cabral
desembarcou em Lisboa, em 21 de julho de 1501, seria assim…
NAVEGADOR PORTUGUÊS DESCOBRE NOVAS TERRAS NA AMÉRICA
No
dia 22 de abril do ano de 1500, o navegador português Pedro Álvares
Cabral e sua frota alcançaram terras desconhecidas, que batizaram de
Ilha de Vera Cruz. Eles haviam partido de Portugal no mês anterior com
destino às Índias, em busca de ouro e especiarias.
Um desvio na rota acabou fazendo com que chegassem ao novo
território – uma terra de grande beleza, como bem descreve a carta de
Pero Vaz de Caminha ao rei Dom Manuel I. Apesar de estar sendo recebido
em Portugal com todas as glórias, neste dia 21 de julho de 1501, após
violento combate em Calicute, há especulações de que Cabral não teria
descoberto as novas terras por mero acaso.
EXCLUSIVO! ENTREVISTA COM PEDRO ÁLVARES CABRAL
Jornal da História: Como o senhor chegou às terras brasileiras?
Cabral: Parti de Portugal comandando uma frota de
13 embarcações no dia 8 de março, com 1.500 homens e 8 padres. A maior
frota portuguesa até então! Chegaram a terra firme 12 naus, mas
infelizmente apenas 6 retornaram a Portugal. Nosso objetivo era
alcançar as Índias, para comercializar mercadorias e levar a religião
católica para outros povos. Nosso rei, Dom Manuel, queria impressionar
o samorim, o rei de Calicute, na Índia, com uma frota rica e poderosa,
para melhor fazer negócios. O samorim havia esnobado Vasco da Gama, que
desembarcara em Calicute com navios pequenos e sem riquezas.
Jornal da História: É verdade que Portugal já tinha conhecimento da existência dessas novas terras?
Cabral: Isso eu não posso dizer.
Jornal da História: O que o senhor tem a dizer sobre os boatos de que o senhor não seria o primeiro a descobrir as novas terras?
Cabral: Que boatos? Isso é intriga da oposição! Que tipo de jornal é esse que dá ouvidos a boatos?
Jornal da História: Temos nossas fontes. Em 26 de janeiro do ano
de
1500, ou seja, no ano passado, o capitão espanhol Vicente Yáñez Pinzón
teria desembarcado em um local que chamou de Santa Maria de La
Consolación (Hoje, Ponta do Mucuripe, cerca de 10 quilômetros ao sul da
atual Fortaleza, capital do Ceará). Os marujos teriam gravado a data,
seus nomes e os de seus navios em árvores e rochas. Outro navegador
espanhol, parente de Pinzón, Diego de Lepe, teria chegado ao Brasil no
início de fevereiro (Hoje, os historiadores têm opiniões diferentes de
onde seria o local Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, ou Cabo de
São Roque, a 100 km de Natal, capital do Rio Grande no Norte)
Cabral: Se vocês insistirem nessa história, mando processar o jornal por traição à Coroa de Portugal!
Jornal da História: Bem, essa é uma dúvida que vai intrigar os futuros historiadores… Mas voltando à viagem, como foi a chegada?
Cabral: No dia 22 de abril de 1500, avistamos uma
elevação que chamei de Monte Pascoal, porque era época da Páscoa. A
presença de aves marinhas e de grandes algas flutuando no mar já
indicava a proximidade de terra firme. No dia seguinte, enfrentando as
ondas causadas por uma terrível tempestade, conseguimos encontrar uma
baía para ancorar, por isso chamei o lugar de Porto Seguro, um lugar
muito bonito.
Jornal da História: E o contato com os índios?
Cabral: Havia cerca de 20 nativos na praia,
completamente nus, portando arco e flecha. Mas eram bastante amistosos.
De início, trocamos algumas roupas e nossas boinas vermelhas por
colares de contas. Francamente, fiquei surpreso com o comportamento dos
nativos. Um dia, capturamos dois jovens índios e os levamos a bordo.
Nós conversamos por gestos e em nenhum momento eles demonstraram medo
por estar entre desconhecidos. A tripulação ficou agitada quando os
índios apontaram para meu colar de ouro e depois para a terra, como se
estivessem querendo dizer que lá também havia ouro. Ficaram
deslumbrados com as galinhas que levamos, veja você! Os índios estavam
tão à vontade que até dormiram no barco, em pleno convés.
Jornal da História: Depois você seguiu viagem em
direção às Índias, onde entrou em conflito e acabou bombardeando
Calicute por 15 dias. Como foi o ataque?
Cabral: Essa é uma longa história, que vocês podem deixar para a próxima edição, ora pois…
EXTRA! PORTUGUESES SÃO ABANDONADOS EM TERRA ESTRANHA
Tem
gente que gosta mesmo de aventura… Não é que alguns marinheiros
portugueses ficaram no Brasil, enquanto o resto da tripulação seguia
viagem? Dois deles foram deixados de propósito para servir como
informantes do rei. Eram dois degredados, condenados por crimes em
Portugal, que abriram o maior berreiro quando foram deixados na praia.
Choraram tanto que até os nativos ficaram comovidos e caíram no
choro também. Vinte meses depois, foram resgatados pela expedição de
reconhecimento comandada por Américo Vespúcio. Os relatos de um dos
chorões, Afonso Ribeiro, foram muito importantes para Portugal. Os
outros marinheiros que haviam ficado simplesmente desertaram, cansados
da vida sofrida a bordo. Em uma terra tão bonita, com fartura de comida
e de índias sem roupa, escapuliram do navio rapidinho e nunca mais
foram vistos.
Ninguém nunca soube o que aconteceu com os marujos fujões. Será que
conseguiram viver entre os índios? Ou será que serviram de jantar para
os índios canibais (aqueles que comem carne humana)?
TERRA DOS PAPAGAIOS
Uma outra curiosidade sobre os primeiros dias da descoberta foi o
nome dado ao Brasil. Cabral batizou as novas terras com o nome de Ilha
de Vera Cruz (ou da cruz verdadeira, devido à grande cruz fincada no
dia da segunda missa).
Mas os marinheiros não estavam nem aí com o nome oficial.Eles
inventaram outro nome. Sabe qual? “Terra dos papagaios”. Araras e
papagaios multicores enfeitavam a paisagem, e durante mais de três
anos, ninguém chamava o Brasil pelo nome dado por Cabral. Os
portugueses trocaram quinquilharias e suas toucas vermelhas de marujos
por essas aves maravilhosas, que viajaram até Portugal e deslumbraram
seus compatriotas d’além mar.
Depois, o Brasil passou a ser chamado de Terra de Santa Cruz, por
ordem do rei Dom Manuel. Poucos anos depois, o país seria conhecido
como Brasil, devido à grande quantidade de pau-brasil, uma árvore de
tronco avermelhado usada para tingir tecidos, muito apreciada na Europa.
Devido à paisagem paradisíaca, o nome do Brasil também pode ter
derivado de uma ilha lendária na mitologia celta, a ilha Brazil. Era um
lugar mágico perto da Irlanda, que fascinou muitos navegadores e chegou
a aparecer em alguns mapas da época.
COMENTÁRIO POLÍTICO: O DESCOBRIMENTO FOI POR ACASO?
Dizem que Cabral descobriu o Brasil por acaso. Será? Tudo indica que
os portugueses sabiam da existência dessas terras. Outros navegadores
teriam passado bem perto daqui, como o português Duarte Pacheco, em
1498.
A própria viagem de Cristóvão Colombo, que descobriu a América em
1492, sugeria a existência das novas terras ao sul da República
Dominicana. Seis anos antes da viagem de Cabral, Portugal e Espanha
assinaram o Tratado de Tordesilhas. Nesse documento, os dois países
rivais na expansão marítima chegaram a um acordo.
Traçaram uma linha imaginária que passava a 370 léguas a oeste das
ilhas de Cabo Verde, colônia portuguesa próxima ao continente africano.
O mundo ficou dividido em dois: as terras descobertas do lado esquerdo
(oeste) dessa linha ficariam com a Espanha; as do lado direito (leste)
ficariam com Portugal.
Ora, grande parte do Brasil ficava exatamente do lado português. Ao
menos, a parte que mais interessava aos espertos e bem-informados
portugueses: seu extenso litoral, rota fundamental para cruzar o Cabo
da Boa Esperança e chegar às Índias. Portanto, faz sentido pensar que
Cabral tinha uma missão secreta: encontrar as novas terras, garantindo
o domínio de Portugal sobre elas.
(Quinhentos anos depois do fechamento desta edição, a polêmica e o
mistério continuam. Nenhum dos documentos originais da viagem do
descobrimento, como a carta de Pero Vaz de Caminha, deixou indicações
definitivas sobre a verdadeira intenção de Cabral)
CULINÁRIA
Segundo os relatos, o encontro inicial entre os índios e os
viajantes portugueses aconteceu de maneira pacífica. Só não houve
acordo quanto à comida. Os dois índios que subiram a bordo de uma das
caravelas experimentaram as comidas e bebidas oferecidas: pão, peixe
cozido, bolo, mel, figos secos e vinho.
Não gostaram de nada. Cuspiam fora tudo que colocavam na boca. Não era para menos! Eles não estavam acostumados a nada daquilo.
A alimentação básica dos índios vinha das plantações de milho, inhame,
feijão, abóbora e mandioca, além das frutas nativas, como o abacaxi.
Até a água oferecida pelos “anfitriões” portugueses não se comparava
àquela que os índios bebiam: tinha ficado armazenada em tonéis durante
mais de 40 dias e não era nada fresca…
Imaginem se os índios tivessem provado da ração servida nas naus
cabralinas! Sairiam correndo! A base da dieta a bordo era um biscoito
duro e salgado, bolorento e fedorento, além de carne salgada, cebola,
vinagre e azeite. Essa dieta muito pobre em vitaminas, causava uma
doença terrível nos marujos, chamada escorbuto. Provocada pela carência
de vitamina C, o escorbuto fez muitas vítimas fatais durante as viagens
marítimas. Para alívio dos navegantes, no século 18 o capitão inglês
James Cook descobriu que o consumo de limões e laranjas, ricos em
vitamina C, combatia a doença.
COLUNA SOCIAL
No dia 26 de abril de 1500, domingo de Páscoa, foi realizada a
primeira missa em terra firme, na praia. Todos estavam lá: o comandante
Pedro Álvares Cabral, a tripulação da frota, os padres que também
participaram da viagem.
O frei Dom Henrique celebrou a missa, acompanhada com grande devoção
pelos portugueses. O melhor é que os índios, os verdadeiros donos da
casa, também apareceram, curiosos para ver aquele desconhecido e solene
ritual. Depois da missa, os nativos começaram a tocar conchas e
buzinas, pulando e dançando. Resumindo: o primeiro evento social
brasileiro foi um sucesso!
No dia 1º de maio, foi erguida a primeira cruz e rezada a segunda
missa. Carregando os estandartes da Ordem de Cristo, mais de mil homens
da esquadra de Cabral seguiram em romaria até o local escolhido para
fincar a grande cruz, de cerca de sete metros.
A cruz foi ali colocada também para assegurar a posse da terra ao
rei Dom Manuel, sinalizar uma boa fonte de água e o local onde seriam
deixados dois degredados, futuros informantes. Cerca de 80 índios
acompanharam a celebração, repetindo os gestos, levantando e se
ajoelhando como os portugueses. Um luxo só!
MODA
Entre índios e portugueses, quanta diferença no visual! Os
portugueses chegaram com suas roupas pesadas, botas de couro e boinas
na cabeça. O tipo de roupa perfeito para o clima frio europeu e para as
exigências da nobreza, mas nem um pouco adequado ao calor tropical.
Enquanto isso, os índios nem se preocupavam em vestir alguma coisa.
Andavam completamente nus, usando apenas bonitos “acessórios”, como
colares e cocares de penas multicoloridas. Para os portugueses, criados
numa sociedade bastante diferente, aquilo era totalmente imoral.
Mas para os índios a nudez era a coisa mais natural do mundo.
Esquisitas eram aquelas roupas calorentas que ainda por cima
atrapalhavam na hora de correr, caçar, subir em árvores…
SEÇÃO DE CARTAS
O Jornal da História obteve, com exclusividade, trechos da carta que
Pero Vaz de Caminha enviou ao rei Dom Manuel. A carta chegou por meio
de Gaspar de Lemos, que comandava a nau de mantimentos da frota de
Cabral, enviada de volta a Portugal para dar notícia do “achamento” do
Brasil.
Contratado para ser o contador da feitoria em Calicute, na Índia,
para onde Cabral depois se dirigiu, Caminha também era escritor de
talento. Sua carta, tida como a “certidão de nascimento” do Brasil,
descreve com brilho e detalhe os primeiros dias dos portugueses na nova
terra e seu contato com os índios.
Pero Vaz faleceu pouco depois, em combate contra os árabes em
Calicute. Para homenageá-lo, o Jornal da História pede perdão aos
leitores e cede sua Seção de Cartas ao bravo escriba. (Desaparecida
durante muitos anos, a carta de Caminha só foi redescoberta e publicada
em 1817, pelo historiador português Manuel Aires do Casal)
24 de abril de 1500, Sexta-feira
Sobre os índios
“A feição deles é parda, um tanto avermelhada, com bons rostos e
bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Não fazem o
menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas, e nisso têm tanta
inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam o lábio de baixo
furado e metido nele seus ossos (…) agudos na ponta como furador. (…)
Os seus cabelos são lisos. E andavam tosquiados (…) e rapados até por
cima das orelhas (…) “
(Caminha, como os outros, ficou maravilhado com a inocência,
ingenuidade e beleza dos índios, que se mostraram bastante dóceis desde
o início).
O contato a bordo
“Afonso Lopes, nosso piloto, estava em um daqueles navios pequenos.
(…) Tomou dois daqueles homens da terra, mancebos e de bons corpos, que
estavam em uma espécie de jangada. Já de noite, Afonso Lopes trouxe-os
ao Capitão, em cuja nau foram recebidos com muito prazer e festa. (…)
Quando eles vieram, o Capitão estava sentado em uma cadeira,
bem-vestido, com um colar de ouro muito grande no pescoço, e tendo aos
pés um grande tapete como estrado. (…) Um deles, porém, reparou no
colar do Capitão e começou a acenar para a terra e depois para o colar,
como se nos quisessem dizer que na terra também havia ouro. (…) Nós
assim interpretávamos os seus gestos, porque assim o desejávamos (…)”
(Durante muitos anos, Portugal desprezou o Brasil por considerar que
as novas terras não tinham minérios de valor, como ouro, prata e ferro,
em seu subsolo, se contentando em pilhar o pau-brasil, madeira valiosa
na Europa. Por um bom tempo, o Brasil serviu apenas como rota e porto
seguro para as Índias. Hoje sabemos que isso não é verdade, e que o
país possui algumas das maiores reservas minerais do mundo!)
26 de abril de 1500, Domingo
O palhaço Diogo Dias
“Do outro lado do rio, andavam muitos deles, dançando e folgando,
uns diante dos outros, sem se tomarem pelas mãos. (…) Dirigiu-se,
então, para lá, Diogo Dias, homem gracioso e de prazer. Levou consigo
um gaiteiro e sua gaita. E meteu-se a dançar com eles, tomando-os pelas
mãos; e eles folgavam e riam, e andavam com ele muito bem ao som da
gaita. Depois de dançarem, fez-lhes ali, andando no chão, muitas
piruetas e salto mortal, de que eles se espantavam e riam muito. Mas
como Diogo Dias tocasse neles e os segurasse com essas brincadeiras,
logo se tornaram esquivos como animais monteses (…)”
(Apesar de “mansos”, os índios evitavam o contato físico com os
portugueses. Demonstravam dessa forma não serem tão ingênuos, assim
como o fato de não deixarem os portugueses dormirem na aldeia.)
30 de abril de 1500, Quinta-feira
Gente inocente
“Parecem-me gente de tal inocência que, se nós os entendêssemos, e
eles a nós, seriam logo cristãos, porque parecem não ter nenhuma
crença. E portanto, se os degradados que aqui hão de ficar aprenderem
bem sua fala e os entenderem, não duvido que eles (…) hão de se tornar
cristãos em nossa santa fé. Portanto, Vossa Alteza, que tanto deseja
fazer crescer a santa fé católica, deve cuidar da salvação deles . (…)
Eles não lavram, nem criam. Nem há aqui boi, vaca, cabra, ovelha,
galinha, ou qualquer outro animal que esteja acostumado a conviver com
o homem. (…) Nesse dia, enquanto ali andavam, dançaram e bailaram
sempre com os nossos, de maneira que são muito mais nossos amigos do
que nós seus (…)”
(Aqui, Caminha se refere à docilidade dos índios, o que poderia
facilitar a catequização pelos missionários católicos. É interessante
notar a sinceridade do relato neste último trecho, em que Caminha
reconhece as “segundas intenções” dos portugueses diante da alegria
desinteressada dos índios)
Uma terra rica
“Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem
coisa alguma de metal ou ferro; nem o vimos. Porém a terra em si é de
muito bons ares, frios e temperados (…). As águas são muitas, infindas.
E em tal maneira é graciosa que, querendo-se aproveitá-la, dar-se-á
nela tudo por causa das águas que tem.”
(Caminha não poderia imaginar o tamanho das riquezas da nova terra
descoberta. Imaginem se tivesse visto o rio Amazonas em toda a sua
imensidão… ou se soubesse que o Brasil, ainda hoje, possui a maior
extensão de terras cultiváveis do mundo!)
BRASIL 500 ANOS DEPOIS
Na época do Brasil Colônia, quase todo mundo morava no campo, onde
se concentravam as atividades econômicas mais lucrativas, como os
engenhos de cana-de-açúcar. As famílias ricas tinham casas na cidade,
mas quase só saíam de suas fazendas nas épocas de festas. Enquanto
isso, as cidades eram pouco desenvolvidas, com população pequena que
sobrevivia do comércio e das atividades administrativas.
O processo de urbanização e o crescimento das cidades começou a
ganhar impulso quando o rei de Portugal, Dom João VI, transferiu a
corte portuguesa para o Brasil e se instalou no Rio de Janeiro em 1808,
fugindo do conquistador Napoleão Bonaparte.
Imagine o que deve ter sido, para uma cidade de 50 mil moradores, a
chegada de mais de 10 mil novos habitantes, vindos da Europa! Foi uma
mudança e tanto. A capital da colônia começou a virar “gente grande”:
ganhou bibliotecas, novos teatros, passeios públicos. A maior badalação!
Com o crescimento das cidades, muita coisa mudou no Brasil. Muita
gente saiu do campo e foi para a cidade, e 500 anos depois, é um país
muito diferente …
AS CIDADES CRESCEM
Mesmo com essas mudanças, o Brasil continuou a ser um país
basicamente agrícola. Em 1872, já na época do Império, somente 20% da
população se dedicava ao setor de serviços ou à indústria. E o Rio de
Janeiro permanecia sendo o único grande centro urbano, seguido por
Salvador, Recife e Belém.
A partir do final do século 18, depois de proclamada a República, em
1889, teve início o incrível crescimento de São Paulo, cidade que
enriqueceu com o comércio do café e atraiu muitos imigrantes. Em apenas
10 anos (1890-1900), a população passou de pouco mais de 60 mil
habitantes para quase 240 mil.
A cara do Brasil urbano só começa mesmo a se definir, e muito
rápido, a partir dos anos 50. Veja só quanta diferença: em 1940, a
população urbana somava apenas 16% da população brasileira; mas em 1980
o número cresceu para 51,5%, quer dizer, a maioria das pessoas passou a
morar nas cidades.
Surgiu uma grande quantidade de indústrias, que atraíam muita gente
com ofertas de emprego, e o setor de serviços teve um enorme
crescimento. Enquanto isso, no campo, as máquinas substituíam muitos
trabalhadores, que corriam para as cidades em busca de trabalho.
UM PAÍS DO FUTURO?
Olhando para trás, vemos quanta coisa mudou nos últimos 500 anos! Os
índios, que eram os senhores da terra, hoje não podem bobear: precisam
lutar por seus direitos a todo momento para que não sejam ainda mais
explorados e dizimados. A colônia virou Império e depois República. Mas
nunca conseguiu se livrar dos interesses estrangeiros dispostos a tirar
suas vantagens…
O povo brasileiro foi se formando através dos séculos, surgindo da
mistura de negros, índios e brancos, criando sua própria cultura. Aos
poucos, os brasileiros foram descobrindo seu próprio país. Primeiro se
estabeleceram no litoral, depois se embrenharam país adentro,
explorando o interior, a Amazônia e até construindo uma moderníssima
capital, Brasília, em pleno descampado do Planalto Central.
As cidades, que nos primeiros tempos dependiam do campo, onde se
concentrava a maioria da população, ganharam cada vez mais importância
a ponto de transformar o Brasil num país, hoje, essencialmente urbano.
Com tantas mudanças, é impossível não se perguntar: como serão os próximos 500 anos?
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